domingo, 18 de junho de 2023

Possível Vida em Vênus

     Equipe internacional encontra presença de gás fosfina, produzido por bactérias que vivem em ambientes inóspitos, na atmosfera de Vênus, assim anunciaram ciêntistas nesta segunda-feira, um forte indicador da presença de vida no planeta. As evidências foram publicadas no periódico científico Nature Astronomy.

     Na Terra, o composto químico é produzido por bactérias que vivem em ambientes com escassez de oxigênio, como é o caso da atmosfera venusiana. 

     A existência de vida extraterreste é um dos maiores questionamentos da ciência. A descoberta do gás fosfina em Vênus foi feita por um time internacional de cientistas no Telescópio James Clerk Maxwell, no Havaí, e confirmado por meio do rádiotelescópio Alma, no Chile. Esta é a primeira vez que este composto é descoberto em um planeta telúrico do Sistema Solar, com exceção da Terra. 

O gás, formado pela combinação de fósforo com três átomos de hidrogênio, é considerado altamente tóxico para seres humanos. A concentração encontrada na atmosfera de Vênus é de 20 partes por bilhão.

     A ciêntista Jane explica que os pesquisadores avaliaram possíveis fontes não biológicas, como atividade vulcânica, meteoritos e diversas reações químicas, mas nenhuma pareceu viável. As pesquisas continuarão com o intuito de confirmar a presença de vida no planeta ou encontrar uma explicação alternativa.

Com base no que sabemos sobre Vênus, a explicação mais plausível para a presença do gás fosfina, por mais fantástica que pareça, é a presença de vida — disse Clara Sousa-Silva, portuguesa de 33 anos, co-autora e astrofísica molecular do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA). — É preciso enfatizar, no entanto, que a hipótese de vida (extraterrestre) deve ser encarada como o último recurso. A descoberta é importante porque, se for o caso, isso significa que não estamos sozinhos e que a vida por si só pode ser muito comum. Pode haver vários outros planetas habitados em nossa galáxia.

     Vênus é o planeta mais próximo da Terra. É similar em estrutura, embora ligeiramente menor, e é o segundo planeta mais próximo do Sol, enquanto a Terra é o terceiro. A atmosfera venusiana é tóxica e densa e retém o calor. A temperatura na superfície chega a 471°C, o suficiente para derreter chumbo. A pressão atmosférica é 90 vezes maior do que a terrestre

— Nenhuma forma de vida poderia sobreviver na superfície de Vênus, que é completamente inóspita, até mesmo para bioquímicas completamente diferentes das nossas. Mas o planeta pode ter tido vida há muito tempo atrás, antes do efeito de gás estufa deixar a maior parte da superfície completamente inabitável — completou Clara.


Nuvens ácidas


     A hipótese de vida em Vênus é antiga e já foi levantada por diferentes astrônomos como Carl Sagan, morto em 1996. No entanto, a maioria dos cientistas se concentrou em outros planetas, como Marte, e luas como Europa (Júpiter) e Encélado (Saturno). Embora tenha enviado sondas ao planeta batizado com o nome da deusa grega da beleza, a Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, deu bem menos atenção ao astro.

     Alguns cientistas desconfiam que as nuvens altas do planeta, cuja temperatura gira em torno de 30°C, pode reunir micróbios aéreos capazes de sobreviver à extrema acidez — elas são formadas em boa parte por ácido sulfúrico, que compõe 90% da formação destas nuvens. Micróbios terrestres não são capazes de resistir a esse nível de acidez.

Se forem micro-organismos, eles poderiam ter acesso a alguma luz solar e à água e talvez vivam em gotículas de água, o que impediria a desidratação. Mas isso exigiria algum mecanismo desconhecido para protegê-los da corrosão — disse Jane. 

     Na Terra, micro-organismos que vivem em ambientes anaeróbicos, ou seja, que não dependem de oxigênio, produzem fosfina. Algumas bactérias absorvem fosfato e produzem o gás fosfina a partir da combinação com o hidrogênio.

     O composto também pode ser produzido por plantas de esgotos, pântanos, plantações de arroz, sedimentos lagunais e também é encontrado nos excrementos e no trato digestivo de vários animais, incluindo seres humanos. O gás fosfina também pode ser gerado artificialmente em alguns procedimentos industriais.

     Vênus deveria ser um planeta hostil ao gás fosfina, já que sua superfície e sua atmosfera são ricas em compostos de oxigênio que rapidamente reagiria e destruiria o elemento.

— Alguma coisa parece estar gerando a fosfina em Vênus de maneira tão rápida quanto a destruição do gás — disse outra co-autora do estudo, Anita Richards, astrofísica da Universidade de Manchester (Reino Unido).

Para a astrônoma Diana Paula Andrade, do Observatório do Valongo, da UFRJ, a descoberta de fosfina em Vênus é marco importante na astrobiologia, mas a especulação sobre vida ainda é prematura. A cientista recorda como exemplo a descoberta de metano (molécula de carbono e hidrogênio) em Titã, lua de Saturno.

— Essa descoberta causou alvoroço em 2007 na comunidade cientifica. Ficaram especulando se não poderia ser algum organismo que liberava metano — conta.

— Mas quando começaram a estudar melhor Titã, a gente viu que o metano saiu de processos geológicos mesmo. É o ciclo de hidrocarbonetos de Titã que faz esse metano ir para a atmosfera. Não é necessário usar um micro-organismo para explicar o metano de Titã.

     A astrônoma conta que a busca de fosfina é um alvo já consolidado na astrobiologia, e o aparecimento de substância em um estudo sobre Vênus não é uma surpresa total.

— A formação da fosfina no meio interestelar é prevista em reações que não têm barreira de ativação, epodem acontecer naturalmente — conta. — A fosfina já foi encontrada no envoltório cinrcunstelar (gás, poeira e asteroides em torno de estrelas) também.

     Clara Sousa-Silva, porém, diz crer que a relativa proximidade de Vênus, que já recebeu sondas da Nasa, pode facilitar as investigações científicas para elucidar o problema.

Nós fizemos o melhor possível para explicar a descoberta sem a necessidade de ujm procedimento biológico. Com o nosso conhecimento atual a respeito da fosfina e de Vênus, bem como da geoquímica, não temos a resposta para a presença do gás nas nuvens do planeta. Isso não significa que há vida, necessariamente, mas que há um processo exótico produzindo fosfina, o que exige mais estudos — avaliou Clara. — Felizmente Vênus está 'logo ali'. Podemos literalmente investigar localmente.

     No passado, houve missões do Programa Venera, da então União Soviética, em Vênus. Mas o principal desafio é garantir a operação de sondas, uma vez que metais derretem facilmente pelas temperaturas altíssimas . Atualmente, há apenas uma sonda na órbita do planeta, a japonesa Akatsuki, lançada em 2010.

 

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